domingo, 5 de agosto de 2012

Ana Terra



1777 a 1811



Ana Terra descobre, nas terras de seu pai, Maneco Terra, um índio ferido, de tez relativamente clara (Pedro Missioneiro). Olhado com desconfiança pelos Terra, o índio se recupera e acaba permanecendo na fazenda como uma espécie de agregado. Surpreende a todos com suas habilidades campeiras, com seu repertório de histórias e lendas e com sua capacidade de tocar flauta. Na primeira vez que Pedro executa uma música, Ana é tomada de grande emoção:
"Sentiu então uma tristeza enorme, um desejo amolecido de chorar. Ninguém ali na estância tocava nenhum instrumento. Ana não se lembrava de jamais ter ouvido música naquela casa."
A solidão de Ana Terra e o desejo que atormenta seu corpo levam-na a desenvolver uma paixão contraditória pelo estranho:
"E ali, no calor do meio-dia, ao som daquela música, voltava-lhe como nunca o desejo de homem. Pensava nas cadelas e tinha nojo de si mesma."
Até que, por fim, ela termina por se entregar ao missioneiro. Desses furtivos encontros amorosos resulta a gravidez da moça, descoberta pela mãe e também pelo pai, que, escondido, ouve a confissão da filha. Em seguida, Horácio e Antônio, irmãos de Ana, arrebatam Pedro Missioneiro e carregam-no para um ermo, a fim de assassiná-lo, confirmando a visão do próprio índio, que antevira em sonho a sua morte.
Pedrinho (Pedro Terra) nasce e, a exemplo de sua mãe, recebe total desprezo do avô, Maneco, e dos tios criminosos. Ana, por seu turno, tem o coração definitivamente seco em relação a seus familiares. A única pessoa que estima é a mãe, D. Henriqueta. E quando esta morre, Ana Terra não tem pena, porque "a mãe finalmente tinha deixado de ser escrava". Alguns anos mais tarde, o avô se reconcilia com o neto, Pedro, por ocasião do plantio do trigo, velho sonho de Maneco Terra. Sonho de que o menino compartilha emocionadamente.
Um ataque de bandidos castelhanos termina com a permanência de Ana Terra na fazenda do pai. Antes do massacre, ela esconde o filho, a cunhada, mulher de Antônio, e sua filha numa cova no meio do mato e volta para casa, onde será sucessivas vezes estuprada pelos bandoleiros.
Mortos todos os homens da casa, Ana Terra resolve partir com as duas crianças sobreviventes e a cunhada. Viajam de carreta com uma família em busca de um lugarejo (Santa Fé) que acaba de ser fundado por um "coronel", Ricardo Amaral, e constituído até então por apenas cinco ranchos. Ana constrói o seu. E com o passar do tempo - valendo-se de uma tesoura de podar - torna-se a parteira do povoado.

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